Saiba um pouco da trajetória de Cazuza, o poeta que se foi há 20 anos
Os ventos do dia 4 de abril de 1958 serviram de cenário para que viesse ao mundo uma criança que recebeu, em homenagem ao avô paterno, o nome de Agenor de Miranda Araújo Neto. Mas antes de nascer, o garoto recebeu do pai o apelido que o Brasil inteiro o conheceu: Cazuza.
O período que se estende entre a infância e adolescência de Caju - um dos codinomes de Cazuza - foi cercado por um bom ambiente familiar. Como era filho único, teve sobre si toda atenção e carinho dos pais.
Boas escolas e incentivo nunca faltaram. Ele chegou a começar cursar Comunicação Social, mas abandonou as aulas em menos de um mês, pois, o que realmente desejava era viver intensamente.
Cazuza tentou seguir diversas carreiras como fotógrafo, ator e divulgador musical de uma gravadora. Mas foi através do amigo Leo Jaime que Caju foi apresentado aos integrantes de um grupo de rock que ainda estava em formação.
O ano era 1981 quando Cazuza (voz) se juntou a Guto Goffi (bateria), Dé (baixo), Maurício Barros (teclados) e Roberto Frejat (guitarra) e decretou então a formação original do Barão Vermelho. Durante quatro anos o quinteto permaneceu junto. O grupo lançou três discos, que serviram de suporte para obras que hoje são clássicos da música brasileira como, por exemplo, "Por que A Gente é Assim?", "Todo Amor Que Houver Nesta Vida" e "Carne De Pescoço".
Em julho de 1985, após várias brigas internas, Cazuza deixa o Barão e logo levanta o vôo da carreira solo. Pouco depois de sair do grupo, o artista descobriu ser soropositivo. Começou então a sua luta contra a doença degenerativa e a urgência em imortalizar sua arte. Em um período de cinco anos, o poeta lançou cinco álbuns e formou diversas parcerias musicais. Explorou sua versatilidade musical e gravou temas que vão do pop ao blues, passam pela bossa-nova e navegam pelo rock.
Na manhã do dia 7 de julho de 1990, aos 32 anos, Cazuza faleceu em razão das complicações decorrentes da AIDS. Uma das principais características de seu peculiar estilo de composição é a presença de uma poesia que denunciava uma sociedade traiçoeira, competitiva e de futuro duvidoso. De maneira póstuma, foram lançados três trabalhos sendo que um deles é um registro que sintetiza as apresentações do Barão na primeira edição do Rock in Rio, em janeiro de 85.
A seguir alguns dos melhores momentos da curta, porém intensa carreira do poeta que há 20 anos deixou a música brasileira orfã.
Pro Dia Nascer Feliz
Esta canção inicialmente fez sucesso graças a versão do cantor Ney Matogrosso, registrada no disco "...Pois É", de 1983. Mas pouco tempo depois a versão do Barão ganhou as FM's e vitrolas dos roqueiros da época e levou de uma vez por todas os holofotes para a dupla Frejat/Cazuza. "O Ney foi nossa fada madrinha", dizia Cazuza sobre o fato de a música ter se tornado conhecida por meio da interpretação de Ney. Com esta canção o Barão encerrou a histórica apresentação na primeira edição do festival Rock In Rio, em janeiro de 1985.
Bete Balanço
Em 1984 o Barão foi convidado para escrever a música tema de um filme dirigido por Lael Rodrigues. Mais uma vez a dupla Frejat/Cazuza entra em ação e dá vida a canção que recebeu o mesmo nome que o longa: "Bete Balanço". De quebra, os Barões participaram do filme que teve no elenco Débora Bloch, Lauro Corona, Diogo Vilela, entre outros.
Exagerado
Em 1985, após uma conturbada saída do Barão Vermelho, Cazuza lançou Exagerado, o seu primeiro trabalho solo. A faixa título do álbum tournou-se um cartão de visitas do artista e até hoje é tocada nas rádios e rodinhas de violão.
O Nosso Amor a Gente Inventa (Uma Estória Romântica)
O disco Só se For a Dois, lançado em 1987, apresenta um lado romântico assumido de Caju. Surgem novas parcerias musicais e as letras ganham um conteúdo mais maduro, isto é, Cazuza passa a escrever sobre temas que vão além do cenário da vida noturna do Rio de Janeiro.
Brasil
Munido com uma poesia ácida, Cazuza fez esta canção e vociferou contra as falcatruas que tomavam conta da nação no final dos anos 80. Passados tantos anos há quem acredite que a situação, ilustrada neste samba rock, não está muito diferente neste país.
O Tempo Não Pára
Inspirado no discurso apocalíptico de Bob Dylan, Cazuza escreveu, em parceria com Arnaldo Brandão, esta música que tornou-se hino de toda uma geração. A canção apresenta na letra a realidade de um povo que vive esmagado no terceiro mundo, onde há riquezas concentradas nas mãos de poucos e pobreza (principalmente financeira e intelectual) distribuída para uma grande maioria.
20 anos sem Cazuza: veja a trajetória do cantor
Cazuza, no auge da carreira (Foto Reprodução) |
São Paulo, julho de 2010 – Seu nome era Agenor de Miranda Araújo Neto, mas ele ficou conhecido como Cazuza. Nesta quarta-feira (7), 20 anos após sua morte, a obra do artista permanece viva como nunca. Considerado um gênio da música brasileira que, numa época pós-ditadura, botou o dedo na cara da sociedade, o ex-líder da banda Barão Vermelho começou a dar voz aos impulsos de uma juventude necessitada de novidades.
Seu jeito inquieto fez com que ele acabasse os estudos com muita dificuldade e nada de faculdade! Seu pai João Araújo, produtor fonográfico, não queria que ele passasse o resto da vida sem profissão, então lhe arranjou um emprego. A partir daí, Cazuza trabalhou no departamento artístico da Som Livre, em assessoria de imprensa e até tentou ser fotógrafo, mas nada disso o satisfazia.
Enfim, ele, Cazuza, era a grande novidade. Tornou-se um cantor e compositor brasileiro e ficou conhecido como símbolo da sua geração no papel de vocalista e principal letrista da banda Barão Vermelho. Em 1982 lançou o seu primeiro disco, com o nome homônimo ao da banda, resultado de sua parceria com Frejat. Os principais sucessos deste disco são Todo Amor Que Houver Nessa Vida, Pro Dia Nascer Feliz, Maior Abandonado, Bete Balanço e Bilhetinho Azul.
Cazuza à frente da banda Barão Vermelho (Foto Reprodução) |
Em 1985, ele saiu da Barão e resolveu se lançar em carreira solo. Foi então que ele se tornou um dos ícones da música brasileira. Dentre seus sucessos, destacam-se Exagerado, Codinome Beija-Flor, Ideologia,Brasil, Faz Parte Do Meu Show, O Tempo Não Pára e O Nosso Amor A Gente Inventa. Cazuza assinou os maiores hits do novo álbum: em parceria com Ezequiel e Leoni, o rock emblemático Exagerado, e a balada Codinome Beija-flor, com Ezequiel e Reinaldo Arias.
Foto da divulgação do CD Só se for a dois, de 1987 (Foto Reprodução) |
Com seu segundo álbum, Só se for a dois, ele acrescentou novos sucessos à sua carreira, como o pop-rock O nosso amor a gente inventa (estória romântica). Daí ele se jogou de cabeça em uma turnê nacional, que mostrou um show mais elaborado que os anteriores, em termos de cenário e iluminação. Cazuza se aprimorava e decolava: seus espetáculos lotavam, suas músicas tocavam e a crítica elogiava seu trabalho. Mas antes de estrear este show, ele já sabia que estava com AIDS.
Capa do CD Ideologia, de 1988 (Foto Reprodução) |
Em outubro de 1987, Cazuza foi levado pelos pais para Boston, nos Estados Unidos, onde passou quase dois meses submetendo-se a um tratamento forte. Ao voltar, gravou Ideologia no início de 1988, um ano marcado pela estabilização de seu estado de saúde e pela sua definitiva consagração artística.
No segundo semestre do mesmo ano, o espetáculo de Ideologia se mostrou mais profissional e bem-sucedido. Dirigido por Ney Matogrosso, Cazuza tentou valorizar mais o texto no show, que era pontuado pela palavra "vida". Substituiu a loucura de suas performances anteriores por uma postura mais contida no palco. Mesmo assim não aguentou e exprimiu seu lado agressivo e escandaloso num episódio que causou polêmica: em um show no Canecão, no Rio de Janeiro, cuspiu na bandeira nacional, atirada por uma fã.
Em 1989, se declarou publicamente soropositivo. Foi o primeiro artista brasileiro a assumir a doença publicamente, ele dizia que um artista que cantava “Brasil, mostra sua cara” não poderia mentir para o seu público.
Depois de quatro meses se tratando de forma alternativa em São Paulo, Cazuza viajou novamente para Boston, onde ficou internado até março do ano seguinte. Seu quadro clínico já era extremamente delicado e, àquele ponto, não havia muito mais o que fazer. Ele enfrentou a doença publicamente, mas acabou tomado por ela no dia 7 de julho de 1990.
Seu enterro aconteceu no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, e sua sepultura está próxima à de outros astros da música brasileira como Carmen Miranda, Ary Barroso, Francisco Alves e Clara Nunes. Sua obra é eterna e imortal, e a legião de fãs que ele ainda tem, continuará sendo exagerada, jogada aos pés do artista!
Cazuza, simplesmente Cazuza! (Foto Reprodução) |
HISTÓRIA
Rebelde e contestador, Cazuza era um típico garotão de Ipanema. Entre fins de tarde no Arpoador, bebedeiras no Leblon e rachas na Lapa, o menino passou de fotógrafo profissional à ator, poeta e, por fim, cantor de garagem. Foi Léo Jaime quem o levou para o teste com a banda de Roberto Frejat no início da década de 1980. Era apenas o início do que se chamou na imprensa de Brock, ou o rock Brasil.
O primeiro disco do Barão Vermelho saiu em 1982 com pequena tiragem e vendagem muito ruim (apenas sete mil cópias). No vinil, uma sonoridade visceral inspirada em bandas como Rolling Stones e Deep Purple. Os blues rasgados "Ponto Fraco", "Bilhetinho Azul" e "Down em Mim" tinham um importante contraponto na balada rock "Todo Amor que Houver Nessa Vida". Foi essa que chamou a atenção de Caetano Veloso, num show do Canecão, a estrela baiana se apropriou da balada e fez dela uma bela canção MPB.
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